Estudar
as bruxas é mais do que saber sobre ocultismo, feitiçaria, magias e poções
mágicas, é entrar num período da história que nos leva a ver o quanto este
assunto pode ser muito mais profundo e ao mesmo tempo entender o quanto a
“bruxaria” interferiu no contexto histórico. Dentre as pessoas que foram
acusadas de bruxaria estão mulheres, homens, pessoas da nobreza e da própria
igreja católica como bispos, padres e até papas.

Não eram denunciadas, as autoridades clericais
recomendavam que fossem instruídas sobre a natureza estúpida e ilusória da
bruxaria. Santo Agostinho, bispo de Hipona na Algéria, 400 d.C., declarou que
qualquer um que acreditasse em bruxaria, seria de fato um herege. Em 785 d.C.,
esta declaração foi banida no concílio de Paderborn, na Alemanha, onde
declarou-se que os feiticeiros deveriam se rebaixados ao status de
servos e escravos, ficando a serviço da Igreja. Para a igreja cristã, terminar
com a magia, bruxaria, feitiçaria, paganismo, não era somente uma maneira de
terminar com a “heresia” não era só a fé universal no cristianismo, mas o
interesse político que Ela exercia sobre as outras formas de poder. A bruxaria
na Europa ocidental era diferente de todos os outros tipos de bruxaria em um
aspecto notável. Na Europa os bruxos passaram a ser vistos como adoradores do
diabo. Era de fato uma prática a
igreja estigmatizar todos os grupos religiosos
dissidentes com os crimes mais hediondos constantes dos códigos de conduta. A
população do período medieval vivia com medo: medo de doenças, fome, guerras,
impostos, da morte e do inferno. Era também uma sociedade que acreditava no
sobrenatural, no poder do diabo e seus demônios, no poder das forças das trevas
e em bruxaria.
Elas
também, como as pessoas do período antigo, relacionavam as catástrofes naturais
e os problemas familiares como impotência, infertilidade, crianças natimortas
ou mortalidade infantil, sendo os dois últimos itens, o motivo de tantas
parteiras serem acusadas de bruxaria. As acusações eram geralmente levantadas
por vizinhos indispostos contra mulheres específicas: velhas, solitárias,
impopulares, neuróticas, insanas, mal humoradas, promíscuas, praticantes de
medicina popular ou parteiras, mulheres que por motivos variados, haviam se
tornado alvo do ódio local. Pessoas com algum sinal, verrugas, alguma
deficiência física, que tinham animais domésticos principalmente gato preto ou
outros animais, eram suspeitas (uma grande quantidade de gatos morreu queimado,
por que eram relacionados ao demônio). A maioria das vítimas da fogueira e de
torturas eram as mulheres porque a igreja dizia que eram mais lascivas, dissimuladas
muito mais carnais que os homens e que praticavam sexo com o diabo. Reuniam-se
em seus sabás e praticavam todo tipo de orgia, infanticídio canibalismo (homens
também).
O livro O
Martelo das Feiticeiras, foi escrito por dois padres dominicanos Heinrich
Kramer e James Sprenger, em 1484, que foram nomeados pelo papa Inocêncio VIII
como inquisidores para julgar feiticeiras nas regiões que hoje compreendem a
Áustria e Alemanha. É um compendio do que era na época, o conhecimento recebido
sobre os bruxos adoradores do diabo, e declarava que qualquer pessoa que não
acreditasse em bruxos era culpado de heresia. Era também um trabalho de
misoginia e obsessão sexual patológicas, insistindo particularmente na
capacidade do diabo e suas bruxas, para remover o órgão sexual masculino,
causando castração temporária ou permanente. Os autores viam isso com horror,
não porque impedisse que os homens se dedicassem à vida sexual, mas porque
negava ao homem a sua masculinidade e também a chance de dominar o impulso
sexual e conquistar uma vida de castidade voluntária, o estado mais elevado que
se podia atingir na terra. Para o autor Norman Cohn, localiza o
desenvolvimento do culto satânico dos bruxos no processo cumulativo de
propaganda, através do qual os dissidentes religiosos foram satanizados, um
processo que começou com o retorno da heresia à Europa ocidental no século XI,
e especificamente, em 1022 quando um grupo de místicos ascetas pios, os quais
negavam diversos postulados da crença cristã, e foram queimados como bruxos em
Orléans.
Vários grupos heréticos foram classificados como
adoradores do diabo, mas na realidade eram puritanos castos, que exaltavam a
vida celibatária. Seus perseguidores eram também celibatários fervorosos, mas
que não admitiam discordâncias religiosas. Acusavam-nos de hipocrisia, que
usavam seu celibato como um disfarce para suas mais nefandas atividades
sexuais. Mas porque tantas pessoas foram condenadas e queimadas na fogueira ou
morreram sob tortura? No começo quem acusava tinha que provar fornecendo provas
e convencer o juiz, se isto não acontecesse era essa acusadora que sofreria o ordálio,
pelo fogo ou água. A partir do século XII, com a revitalização do direito
romano, levou à introdução do sistema de inquirição no processo judicial. Este
método apoiado na tortura, assegurava confissões mais frequentes.

As
disputas pelo papado, levaram a acusações contra o papa Silvestre II (999-1003)
que teria feito um pacto com o demônio para conquistar conhecimentos de magia.
O papa Gregório VII foi denunciado no sínodo de Brixen (1080) por ter como o
papa Silvestre II, estudado magia em Toledo e se tornado um necromante. O
imperador Frederico II, apelidado de “A
maravilha do mundo” que tinha uma grande variedade de interesses intelectuais,
também conquistou uma reputação por seus conhecimentos de magia. Os processos
mais espetaculares por causa da magia ritual, foram incitados pelo Estado. O
rei Filipe IV da França (1285-1314) realizou uma série de julgamentos públicos,
como parte de seu esforço para controlar a Igreja e estabelecer o domínio
absoluto sobre seu reino. O papa Bonifácio VIII (1294-1303) inimigo feroz de
Filipe IV, foi postumamente processado por negar o cristianismo, sodomia e
praticar magia. O bispo Guichardo de troyes foi julgado com base em evidências
falsas fornecidas por rivais políticos e eclesiásticos sob as acusações de
invocar demônios, convocar o diabo, relacionar-se com bruxos e praticar o maleficium
contra a família real. Até os cavaleiros templários foram acusados de
idolatria, sodomia e adoração do Diabo. O invejoso rei Filipe IV, fez as
denúncias contra os Cavaleiros e toda a
riqueza, influência e poder da Ordem foram à ruína.
A
extensão da “caça às bruxas” é espantosa. No fim do século XV e no começo do
século XVI, houve milhares de execuções na Alemanha, na Itália e em outros
países. A partir de meados do século XVI, o terror se espalhou por toda a
Europa, começando pela França e Inglaterra. Estima-se que o número de execuções
em seiscentas por ano para certas localidades, uma média de 2 por dia, exceto
aos domingos. Novecentas bruxas foram executadas num único ano na área de
Wertzberg, e cerca de mil na diocese de Como. Em Toulouse, quatrocentas em um
dia; em 1585, no arcebispado de Trier, duas aldeias foram deixadas apenas com
duas mulheres moradoras cada uma. O total de vítimas pode chegar a cem mil
pessoas, incluindo mulheres, homens, velhos e crianças dos quais a maioria eram
cristãos, porque a população pagã na Europa nesse período era muito reduzida.
Bibliografia utilizada pela autora:
Gardner, Gerald B.: A bruxaria hoje.
Farrar , Janet e Stewart : Oito sabás para
bruxas
Heinrich, Kramer; Sprenger, James: O martelo das
feiticeiras.
Lewis, Brenda R.: A história secreta dos papas.
Lopes, Roberto: O livro da bruxa.
Osuna, Montse : O livro secreto da magia celta.
Prieto, Claudinei: Abc da bruxaria.
Richards, Jeffrey: Sexo desvio e danação: As
minorias na idade média.
Russel,Jefrey B., Brooks,Alexander: história
da bruxaria.
Eliz Darcila Coelho Pinto
Graduanda do curso de bacharel em História na ULBRA Campus Canoas.
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