segunda-feira, 1 de outubro de 2012

QUEM ERAM AS BRUXAS?


         Estudar as bruxas é mais do que saber sobre ocultismo, feitiçaria, magias e poções mágicas, é entrar num período da história que nos leva a ver o quanto este assunto pode ser muito mais profundo e ao mesmo tempo entender o quanto a “bruxaria” interferiu no contexto histórico. Dentre as pessoas que foram acusadas de bruxaria estão mulheres, homens, pessoas da nobreza e da própria igreja católica como bispos, padres e até papas.

        A crença em bruxos, magos, feitiços e maldições vêm desde os tempos bíblicos, quando as pessoas atribuíam os fenômenos naturais como inundações, secas, terremotos a forças demoníacas ou espíritos maldosos. Os feitiços já eram considerados problemas na antiga Babilônia, em 1760a.C, quando fazer uso deles seria motivo para pena de morte, segundo o Código de Hamurabi. O livro bíblico Deuteronômio refere-se à bruxaria como uma “abominação”, já em Êxodo há a seguinte afirmação: “não deixarás uma feiticeira viver”. Necromantes, adivinhos e feiticeiros, foram expulsos da Terra pelo rei Saul. Naquela época, a bruxaria e outras artes “ocultistas” eram consideradas pecado ou crimes que perturbavam a lei e a ordem, espalhavam medo e desrespeitavam e irritavam Deus. Foi na idade média, quando a novata igreja cristã e seus papas se envolveram, a situação ficou diferente. Dali em diante, o cristianismo consideraria a bruxaria uma heresia, igual como todas as crenças que exerciam dogmas diferentes do que a igreja ordenava. No princípio, a igreja tratava as pessoas que caíam na tentação do demônio como vítimas iludidas e não como criminosos.
     
       Não eram denunciadas, as autoridades clericais recomendavam que fossem instruídas sobre a natureza estúpida e ilusória da bruxaria. Santo Agostinho, bispo de Hipona na Algéria, 400 d.C., declarou que qualquer um que acreditasse em bruxaria, seria de fato um herege. Em 785 d.C., esta declaração foi banida no concílio de Paderborn, na Alemanha, onde declarou-se que os feiticeiros deveriam se rebaixados ao status de servos e escravos, ficando a serviço da Igreja. Para a igreja cristã, terminar com a magia, bruxaria, feitiçaria, paganismo, não era somente uma maneira de terminar com a “heresia” não era só a fé universal no cristianismo, mas o interesse político que Ela exercia sobre as outras formas de poder. A bruxaria na Europa ocidental era diferente de todos os outros tipos de bruxaria em um aspecto notável. Na Europa os bruxos passaram a ser vistos como adoradores do diabo.  Era de fato uma prática a igreja  estigmatizar todos os grupos religiosos dissidentes com os crimes mais hediondos constantes dos códigos de conduta. A população do período medieval vivia com medo: medo de doenças, fome, guerras, impostos, da morte e do inferno. Era também uma sociedade que acreditava no sobrenatural, no poder do diabo e seus demônios, no poder das forças das trevas e em bruxaria.


       Elas também, como as pessoas do período antigo, relacionavam as catástrofes naturais e os problemas familiares como impotência, infertilidade, crianças natimortas ou mortalidade infantil, sendo os dois últimos itens, o motivo de tantas parteiras serem acusadas de bruxaria. As acusações eram geralmente levantadas por vizinhos indispostos contra mulheres específicas: velhas, solitárias, impopulares, neuróticas, insanas, mal humoradas, promíscuas, praticantes de medicina popular ou parteiras, mulheres que por motivos variados, haviam se tornado alvo do ódio local. Pessoas com algum sinal, verrugas, alguma deficiência física, que tinham animais domésticos principalmente gato preto ou outros animais, eram suspeitas (uma grande quantidade de gatos morreu queimado, por que eram relacionados ao demônio). A maioria das vítimas da fogueira e de torturas eram as mulheres porque a igreja dizia que eram mais lascivas, dissimuladas muito mais carnais que os homens e que praticavam sexo com o diabo. Reuniam-se em seus sabás e praticavam todo tipo de orgia, infanticídio canibalismo (homens também).

       O livro O Martelo das Feiticeiras, foi escrito por dois padres dominicanos Heinrich Kramer e James Sprenger, em 1484, que foram nomeados pelo papa Inocêncio VIII como inquisidores para julgar feiticeiras nas regiões que hoje compreendem a Áustria e Alemanha. É um compendio do que era na época, o conhecimento recebido sobre os bruxos adoradores do diabo, e declarava que qualquer pessoa que não acreditasse em bruxos era culpado de heresia. Era também um trabalho de misoginia e obsessão sexual patológicas, insistindo particularmente na capacidade do diabo e suas bruxas, para remover o órgão sexual masculino, causando castração temporária ou permanente. Os autores viam isso com horror, não porque impedisse que os homens se dedicassem à vida sexual, mas porque negava ao homem a sua masculinidade e também a chance de dominar o impulso sexual e conquistar uma vida de castidade voluntária, o estado mais elevado que se podia atingir na terra. Para o autor Norman Cohn, localiza o desenvolvimento do culto satânico dos bruxos no processo cumulativo de propaganda, através do qual os dissidentes religiosos foram satanizados, um processo que começou com o retorno da heresia à Europa ocidental no século XI, e especificamente, em 1022 quando um grupo de místicos ascetas pios, os quais negavam diversos postulados da crença cristã, e foram queimados como bruxos em Orléans.

       Vários grupos heréticos foram classificados como adoradores do diabo, mas na realidade eram puritanos castos, que exaltavam a vida celibatária. Seus perseguidores eram também celibatários fervorosos, mas que não admitiam discordâncias religiosas. Acusavam-nos de hipocrisia, que usavam seu celibato como um disfarce para suas mais nefandas atividades sexuais. Mas porque tantas pessoas foram condenadas e queimadas na fogueira ou morreram sob tortura? No começo quem acusava tinha que provar fornecendo provas e convencer o juiz, se isto não acontecesse era essa acusadora que sofreria o ordálio, pelo fogo ou água. A partir do século XII, com a revitalização do direito romano, levou à introdução do sistema de inquirição no processo judicial. Este método apoiado na tortura, assegurava confissões mais frequentes.
       Com a retirada da pena judicial para os acusadores que não conseguiam provar, incentivou as acusações. As torturas eram tão cruéis que muitos confessavam, porque não aguentavam mais tanto sofrimento e dor. E todos os denunciados, acusados ou não, eram obrigados a pagar os processos, sendo que muitos perdiam os seus bens ou o pouco que tinham. Alguns para fugirem da tortura, suicidavam-se e até o caso de um homem que tentou cortar própria língua, mas o que conseguiu foi lacerações na boca e foi obrigado a escrever seu relato. Algumas pessoas distintas como homens e mulheres da nobreza ou com alta posição, bispos e outros prelados, juízes e administradores de alto escalão, raramente conseguiam comprar sua segurança e se livrar do perigo iminente, outros achavam que em troca de uma confissão manteriam suas riquezas ,  propriedades e principalmente, suas vidas. Mas infelizmente isso não acontecia, assim que confessavam, eram jogadas na fogueira como qualquer outra pessoa. Posteriormente os senhores feudais e os bispos locais tomavam posse das suas propriedades e dos condados.
    
       As disputas pelo papado, levaram a acusações contra o papa Silvestre II (999-1003) que teria feito um pacto com o demônio para conquistar conhecimentos de magia. O papa Gregório VII foi denunciado no sínodo de Brixen (1080) por ter como o papa Silvestre II, estudado magia em Toledo e se tornado um necromante. O imperador   Frederico II, apelidado de “A maravilha do mundo” que tinha uma grande variedade de interesses intelectuais, também conquistou uma reputação por seus conhecimentos de magia. Os processos mais espetaculares por causa da magia ritual, foram incitados pelo Estado. O rei Filipe IV da França (1285-1314) realizou uma série de julgamentos públicos, como parte de seu esforço para controlar a Igreja e estabelecer o domínio absoluto sobre seu reino. O papa Bonifácio VIII (1294-1303) inimigo feroz de Filipe IV, foi postumamente processado por negar o cristianismo, sodomia e praticar magia. O bispo Guichardo de troyes foi julgado com base em evidências falsas fornecidas por rivais políticos e eclesiásticos sob as acusações de invocar demônios, convocar o diabo, relacionar-se com bruxos e praticar o maleficium contra a família real. Até os cavaleiros templários foram acusados de idolatria, sodomia e adoração do Diabo. O invejoso rei Filipe IV, fez as denúncias contra  os Cavaleiros e toda a riqueza, influência e poder da Ordem foram à ruína.

       A extensão da “caça às bruxas” é espantosa. No fim do século XV e no começo do século XVI, houve milhares de execuções na Alemanha, na Itália e em outros países. A partir de meados do século XVI, o terror se espalhou por toda a Europa, começando pela França e Inglaterra. Estima-se que o número de execuções em seiscentas por ano para certas localidades, uma média de 2 por dia, exceto aos domingos. Novecentas bruxas foram executadas num único ano na área de Wertzberg, e cerca de mil na diocese de Como. Em Toulouse, quatrocentas em um dia; em 1585, no arcebispado de Trier, duas aldeias foram deixadas apenas com duas mulheres moradoras cada uma. O total de vítimas pode chegar a cem mil pessoas, incluindo mulheres, homens, velhos e crianças dos quais a maioria eram cristãos, porque a população pagã na Europa nesse período era muito reduzida.
         
                       
                                Bibliografia utilizada pela autora:



 Gardner, Gerald B.: A bruxaria hoje.

 Farrar , Janet e Stewart : Oito sabás para bruxas

 Heinrich, Kramer; Sprenger, James: O martelo das feiticeiras.

 Lewis, Brenda R.: A história secreta dos papas.

 Lopes, Roberto: O livro da bruxa.

 Osuna, Montse : O livro secreto da magia celta.

 Prieto, Claudinei: Abc da bruxaria.

 Richards, Jeffrey: Sexo desvio e danação: As minorias na idade média.

 Russel,Jefrey B., Brooks,Alexander: história da bruxaria.

 Eliz Darcila Coelho Pinto

Graduanda do curso de bacharel em História na ULBRA Campus Canoas.

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