Este
artigo busca falar sobre alguns aspectos da Redução de São Miguel começando por
uma história cronológica da redução, buscando analisar as esculturas e sua
forma de fabricação por exemplo a madeira utilizada. Por ser a mais organizada
e importante redução dos sete povos, mesmo não sendo a mais povoada é
considerada a mais formosa redução e um dos exemplos mais significativos do
barroco missioneiro.
A
redução de São Miguel foi fundada em 1632 pelos jesuítas Cristóbal Mendoza
(1590- 1635) e Pablo Benavidez pertencia ao governo de Buenos Aires. Seis anos
depois se mudou para a margem do rio Uruguai onde prosperou bastante, até que
em 1642 desmoronou devido a um vendaval, esta redução as margem do rio Uruguai
deve-se ao Jesuíta Domingos de Torres.
São
Miguel migrou de novo dessa vez para o município de Santo Angel, esta redução
deve grande destaque pelo sua capacidade administrativa e pela rigidez das
normas em suas instalações, outro fator de destaque seriam as próprias
instalações com afirma OLIVEIRA (2004 p. 158):
É como se esta igreja
representasse mais que um simples templo, muito mais que um local de oração,
talvez por isso resistisse tanto. A igreja de San Miguel era um símbolo de fé,
poder e grandeza e, como tal, foi edificada para resistir inclusive ao fogo.
Seguindo
o exemplo das demais reduções espanholas na américa, ela se desenvolveu através
da divisão do trabalho e da produtividade, inúmeros padres passaram por São
Miguel principalmente entre os anos de 1655-1747.
A igreja foi construída em 1747 pelo
jesuíta e arquiteto Ribera que ficou 33 anos na redução de São Miguel, coisa
bastante incomum, pois era normal várias mudanças para oferecer constantes
desafios aos missionários.
Esta não é a que conhecemos hoje. Caiu
em ruina em 1708, a igreja que conhecemos hoje, estima-se começou sua construção
depois de 1747 com a chegada do arquiteto Gianbattista Primoli que desembarcou
no Brasil por volta de 1730.
Gianbattista
Primoli chegou em uma comitiva com mais oito missionários que sairão da Europa.
São Miguel foi a mais organizada dos sete povos, decorada com colunas e
esculturas. É considerada a mais formosa redução e um exemplo significativo do
barroco missioneiro, foi construída em uma colina para evitar aguas fluviais
(OLIVEIRA, 2004, p.161-2).
Esculturas
A escultura missioneira tinha uma
dupla função, a primeira seria abastecer os templos com imagens de santos e sua
segunda função seria pedagógica. Como não havia a opção da leitura a imagem
buscava substituir. Por esse motivo não houve comércio dessas estatuas embora
houvesse relativamente constante fabricação, cada colégio possuía trabalhadores
dedicados a esse serviço.
Os trabalhadores tinham várias
especialidades diferentes havia pintores, escultores, gravadores entre outros.
Estes trabalhadores davam as características das obras que hoje vemos OLIVEIRA
(2004 p. 174) cita algumas dessas características.
– a maioria
está talhada em madeira, em geral cedro;
- em sua totalidade eram de policromia;
- transmitem piedade;
- vestuário geralmente Barroco;
- algumas possuíam articulações (braços e
cabeça);
- Apresentam cavidade dorsal.
A
escolha do cedro para as esculturas dava-se por sua durabilidade se mantido em
local seco e por ser macia ao corte podendo assim ser moldada, ou seja, a
madeira perfeita para ser usada para a fabricação de esculturas, mas o cedro
também tinha outras utilidades que eram utilizadas pelos jesuítas, como por
exemplo, a extração de sangue coagulado de seus galhos e lascas, a resina
servia para a elaboração dos vernizes, suas frutas usadas na produção de
sabão.
Sobre
a cavidade dorsal existem várias hipóteses sobre o motivo de ter esse oco na
escultura à primeira seria de ordem física para evitar que a madeira quebra-se
no momento que estava sendo moldada ou rachasse após de pronta. A segunda seria
em favor da evangelização os jesuítas se colocariam dentro para falar com o índio
através do santo.
A
terceira é mais aceita, de ordem econômica que diz que serviriam para guardar
coisa de valor como ouro e pedras preciosas por exemplo sem levantar muitas
suspeitas, podendo assim ser transportadas por longas distancias o que inclui
oceanos. A quarta seria de ordem folclórica seria profanação por parte de
caçadores de tesouros.
Um
dos pontos debatidos são quanto a originalidade e criatividade dessas
esculturas, os jesuítas afirmavam que o índio tinha capacidade imitativa, mas
esse argumento poderia estar fundamentado na ideia de superioridade europeia. Também a capacidade artística está sendo
avaliada pelos padrões europeus, não de uma arte indígena.
Um
exemplo é a escultura de Nossa Senhora de Conceição (Figura 1) uma relíquia do
barroco, mas podemos notar em sua face e cabelos que ela foi esculpida com
características de mulher índia.
Figura
1: Nossa Senhora de Conceição, Igreja de São Borja.
As
esculturas a baixo são esculturas que estão localizadas no Museu Júlio de
Castilhos onde pode-se ver te perto estas relíquias do barroco missioneiro,
algumas com características mistas um pouco europeias e outro do espirito
guarani.
São
obras de artes que fazem partes da história do Brasil é que nos explicam de
forma muito bela a história e a verdadeira maestria do povo indígena para a
arte, além de nos deixar relíquias que nos servem para reviver e avaliar a
história desta época.
Figura
2: Anjo, Museu Júlio de Castilhos.
Figura
3: São Francisco Xavier, Museu Júlio de Castilhos.
Vorlei L. Martins
Graduando em História na Universidade Luterana do Brasil - Campus Canoas
Bibliografia:
OLIVEIRA,
M. O. Identidade e Interculturalidade:
História e Arte Guarani. Santa Maria: UFSM, 2004, p. 261.
IPHAN,
São Miguel das Missões (pdf).