segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

REDUÇÃO DE SÃO MIGUEL: CRONOLOGIA E ESCULTURAS


Este artigo busca falar sobre alguns aspectos da Redução de São Miguel começando por uma história cronológica da redução, buscando analisar as esculturas e sua forma de fabricação por exemplo a madeira utilizada. Por ser a mais organizada e importante redução dos sete povos, mesmo não sendo a mais povoada é considerada a mais formosa redução e um dos exemplos mais significativos do barroco missioneiro.
            A redução de São Miguel foi fundada em 1632 pelos jesuítas Cristóbal Mendoza (1590- 1635) e Pablo Benavidez pertencia ao governo de Buenos Aires. Seis anos depois se mudou para a margem do rio Uruguai onde prosperou bastante, até que em 1642 desmoronou devido a um vendaval, esta redução as margem do rio Uruguai deve-se ao Jesuíta Domingos de Torres.
            São Miguel migrou de novo dessa vez para o município de Santo Angel, esta redução deve grande destaque pelo sua capacidade administrativa e pela rigidez das normas em suas instalações, outro fator de destaque seriam as próprias instalações com afirma OLIVEIRA (2004 p. 158):
                                                                                                                 É como se esta igreja representasse mais que um simples templo, muito mais que um local de oração, talvez por isso resistisse tanto. A igreja de San Miguel era um símbolo de fé, poder e grandeza e, como tal, foi edificada para resistir inclusive ao fogo.

            Seguindo o exemplo das demais reduções espanholas na américa, ela se desenvolveu através da divisão do trabalho e da produtividade, inúmeros padres passaram por São Miguel principalmente entre os anos de 1655-1747.                                                                               
      A igreja foi construída em 1747 pelo jesuíta e arquiteto Ribera que ficou 33 anos na redução de São Miguel, coisa bastante incomum, pois era normal várias mudanças para oferecer constantes desafios aos missionários.
Esta não é a que conhecemos hoje. Caiu em ruina em 1708, a igreja que conhecemos hoje, estima-se começou sua construção depois de 1747 com a chegada do arquiteto Gianbattista Primoli que desembarcou no Brasil por volta de 1730.
            Gianbattista Primoli chegou em uma comitiva com mais oito missionários que sairão da Europa. São Miguel foi a mais organizada dos sete povos, decorada com colunas e esculturas. É considerada a mais formosa redução e um exemplo significativo do barroco missioneiro, foi construída em uma colina para evitar aguas fluviais (OLIVEIRA, 2004, p.161-2).

Esculturas
            A escultura missioneira tinha uma dupla função, a primeira seria abastecer os templos com imagens de santos e sua segunda função seria pedagógica. Como não havia a opção da leitura a imagem buscava substituir. Por esse motivo não houve comércio dessas estatuas embora houvesse relativamente constante fabricação, cada colégio possuía trabalhadores dedicados a esse serviço.
            Os trabalhadores tinham várias especialidades diferentes havia pintores, escultores, gravadores entre outros. Estes trabalhadores davam as características das obras que hoje vemos OLIVEIRA (2004 p. 174) cita algumas dessas características.
   – a maioria está talhada em madeira, em geral cedro;
   - em sua totalidade eram de policromia;
   - transmitem piedade;
   - vestuário geralmente Barroco;
   - algumas possuíam articulações (braços e cabeça);
   - Apresentam cavidade dorsal. 
A escolha do cedro para as esculturas dava-se por sua durabilidade se mantido em local seco e por ser macia ao corte podendo assim ser moldada, ou seja, a madeira perfeita para ser usada para a fabricação de esculturas, mas o cedro também tinha outras utilidades que eram utilizadas pelos jesuítas, como por exemplo, a extração de sangue coagulado de seus galhos e lascas, a resina servia para a elaboração dos vernizes, suas frutas usadas na produção de sabão. 
Sobre a cavidade dorsal existem várias hipóteses sobre o motivo de ter esse oco na escultura à primeira seria de ordem física para evitar que a madeira quebra-se no momento que estava sendo moldada ou rachasse após de pronta. A segunda seria em favor da evangelização os jesuítas se colocariam dentro para falar com o índio através do santo.
A terceira é mais aceita, de ordem econômica que diz que serviriam para guardar coisa de valor como ouro e pedras preciosas por exemplo sem levantar muitas suspeitas, podendo assim ser transportadas por longas distancias o que inclui oceanos. A quarta seria de ordem folclórica seria profanação por parte de caçadores de tesouros.
Um dos pontos debatidos são quanto a originalidade e criatividade dessas esculturas, os jesuítas afirmavam que o índio tinha capacidade imitativa, mas esse argumento poderia estar fundamentado na ideia de superioridade europeia.  Também a capacidade artística está sendo avaliada pelos padrões europeus, não de uma arte indígena.

Um exemplo é a escultura de Nossa Senhora de Conceição (Figura 1) uma relíquia do barroco, mas podemos notar em sua face e cabelos que ela foi esculpida com características de mulher índia.
Figura 1: Nossa Senhora de Conceição, Igreja de São Borja. 
As esculturas a baixo são esculturas que estão localizadas no Museu Júlio de Castilhos onde pode-se ver te perto estas relíquias do barroco missioneiro, algumas com características mistas um pouco europeias e outro do espirito guarani.
São obras de artes que fazem partes da história do Brasil é que nos explicam de forma muito bela a história e a verdadeira maestria do povo indígena para a arte, além de nos deixar relíquias que nos servem para reviver e avaliar a história desta época.
Figura 2: Anjo, Museu Júlio de Castilhos.
Figura 3: São Francisco Xavier, Museu Júlio de Castilhos.
Vorlei L. Martins
Graduando em História na Universidade Luterana do Brasil - Campus Canoas

Bibliografia:
OLIVEIRA, M. O. Identidade e Interculturalidade: História e Arte Guarani. Santa Maria: UFSM, 2004, p. 261.
IPHAN, São Miguel das Missões (pdf).

quinta-feira, 3 de julho de 2014

MADAGASCAR: UM RESUMO DA HISTÓRIA DO PAÍS

           

              Este artigo se propõe a apresentar de forma sintética a história de Madagascar e alguns aspectos relevantes de sua geografia e sua biodiversidade; além de fazer uma contextualização de um período, no qual a França, por várias décadas, dominou a Ilha.
             Madagascar é uma IIha que se localiza no oceano Índico, próximo ao Continente Africano. O que separa o país do continente é o canal de Moçambique; a ilha também fica próximo às ilhas Mauricio.
             Os primeiros habitantes de Madagascar vieram da África e da Indonésia há cerca de dois mil anos, mas apenas em 900 A.C que mercadores africanos começaram a usar a costa norte para seus negócios. Os europeus chegaram à ilha com o capitão Diogo Dias que servia a Portugal, isso ocorreu porque este se enganou imaginou que estava chegando na Índia, o capital batizou a ilha de St. Lawrence.
            Nos anos que se seguiram, portugueses, franceses, ingleses, holandeses tentaram em vão estabelecer pontos comerciais na ilha; o motivo das falhas, foram os conflitos com os guerreiros Malagasy esses nativos contavam com o conhecimento geográfico da ilha que para os europeus parecia muito hostil.
            No final do século XVII, os piratas conseguiram, após varias investidas, entrar em Madagascar, e usavam esse ponto estratégico, para atacar navios que iam para a Europa, levando mercadoria da Índia.
No século XVIII, os franceses tentaram estabelecer pontos comerciais na costa leste sem sucesso. Do outro lado da Ilha, formava-se o primeiro reino de Madagascar: o Reino de Merina que dominava quase toda a ilha. Em 1810, o rei Radama I abriu as portas da Ilha para os britânicos e permitiu que missionários cristãos evangelizassem o lugar e estabelecessem pontos comerciais.


Após a morte de Radama, sua esposa assumiu o governo; reinou durante 33 anos, exercendo uma política de opressão, perseguindo cristãos e eliminando rivais políticos. Ela restaurou a tradição de sacrificar crianças nascidas em dias de má sorte e cortou relações com os ingleses.  Com a sua morte, Madagascar reabriu as relações com os europeus.
A França invadiu o lugar no ano de 1833. Em menos de 15 anos, o controle Francês na Ilha era total, e Madagascar se tornou colônia francesa. A principal utilidade que a França via para Madagascar era a extração das reservas naturais sem nem um tipo de investimento. Os principais produtos extraídos da iIha eram madeira e baunilha. A população da Ilha tentou se rebelar duas vezes do domínio Francês, em 1918 e 1947, mas a independência veio apenas, em 1960, mais, especificamente, em 26 de junho.
Essa luta de Madagascar por sua independência mostrou claramente o processo geopolítico que ocorria entre os dois países: Madagascar buscava se libertar do domínio da França e, por outro lado, este país lutava por manter seu domínio na IIha.
O resultado dessa disputa interferiu na geografia política da França que com a perda de sua colônia, além da perder do território, perdeu uma região rica em recursos naturais e biodiversidade.
Após a independência o país estava sob o comando do presidente Philibert Tsiranana que manteve um regime parlamentarista. Em 1972, sob a liderança militar do general Ramamantsoa, instalou-se um governo militar que, um ano depois, exigiu a saída das tropas francesas do país.
Em 1975, outro ditador entrou em cena: Didier Ratsiraka assumiu o poder, onde instalou um governo com orientação socialista. Em 1982, o país recorreu ao FMI, devido a uma crise econômica, deixando assim a ideologia socialista. Seu governo durou até ano de 1991, sendo deposto graças a outra crise econômica que assolou o país.
Em 1992, assumiu a presidência democraticamente Albert Zafy, governando sem agitações sociais de grande relevância.
Didier Ratsiraka retornou ao poder em 1997. Eleito democraticamente, governou até o ano de 2001, quando perdeu a eleição para Marc Ravalomanana que se elegeu com a promessa de democratizar ainda mais o país.  Embora derrotado democraticamente, Didier Ratsiraka não aceitou o resultado.
 Naquele momento, eclodiu em todo o país conflitos entre os apoiadores dos candidatos. No mesmo ano houve a recontagem dos votos que confirmou novamente a vitória a Marc Ravalomanana. Didier Ratsiraka não aceitou a vitoria do adversário, exilando-se na França, Em 2003, mesmo exilado foi condenado a 10 anos de serviços forçados, devido ao mau uso da verba pública no tempo que governou o país.
Em 2006, ocorreram eleições democráticas, e Marc Ravalomanana foi reeleito. Em Abril do mesmo ano, são feitas mudanças na constituição, dando mais poder ao presidente.
Em 2009, o presidente aceitou arrendar 50% da área cultivável do país para uma empresa sul-coreano que acarretaria a expulsão dos camponeses dessas áreas.  Isto gerou uma onda de protestos em todo o país, e os militares cercaram o palácio do presidente na capital Antananarivo. Mesmo não estando presente o presidente Marc Ravalomanana, aceitou sua deposição. O poder passou para uma Junta Militar que nomeou o prefeito da capital, como presidente do governo provisório.
Em 2010, foi aprovada a constituição que permitiu que o presidente ficasse por tempo indeterminado no poder, desde que fosse reeleito por via democrática por 5 anos.
Mesmo com todas essas reviravoltas políticas Madagascar é membro da ONU e da União africana e da SADC (Comunidade para o desenvolvimento da África Austral).
A economia se baseia principalmente na agricultura, mineração e pesca. O produto mais conhecido é a baunilha que é usada no mundo inteiro para dar sabor aos alimentos, sendo que os grãos de baunilha levam pelo menos dois anos para crescer, tornando a baunilha um produto ainda mais caro.
Apesar do alto preço do produto, o povo Malagasy ganha extremamente pouco: cerca de um dólar por dia, Isso é outro fator que leva a 70% da população estar abaixo da linha da pobreza e metade das crianças até 5 anos sofrerem de desnutrição, sendo a corrupção do governo de Didier Ratsiraka, naquele período, a causa principal dessas mazela
Em 2005, foi descoberto petróleo que fará parte da futura economia da Ilha, aliado a uma nova forma de sustentabilidade, denominada de Ecoturismo, visando a minimizar os impactos ambientais.

O motivo do investimento no ecoturismo reside no fato de que a Ilha tem um dos maiores índices de biodiversidade do planeta. Na Ilha existem aproximadamente 200,000 espécies conhecidas, dentre estas 150,000 são endêmicas, contando 50 tipos de lêmures, como Aye-aye, Indri, Verreaux's Sifaka, Lémure de rabo Ring-tailed  e Lémure rato.
 Ocorrem no local mais de 400 espécies de sapos, sendo que 99% deles são endêmicas. Outra curiosidade é que os sapos são os únicos anfíbios da Ilha, a exemplo do Sapo Tomate e Sapo Mantella.
Embora sendo um país de muitas florestas, Madagascar sofre com alguns problemas ambientais relativos ao desmatamento e à destruição de habitats naturais; além da presença constante de. queimadas, degradação do solo e exploração descontrolada de seus recursos ecológicos. Ainda que estejam presentes estes fatores negativos quanto à sua preservação, Madagascar possui uma das maiores biodiversidade do mundo, despertando a atenção dos ecologistas para que se efetivem medidas que visem a preservar este espaço:  verdadeiro patrimônio natural da humanidade!


Vorlei L. Martins
Graduando em História na Universidade Luterana do Brasil - Campus Canoas

Revisão:
Carlos Roberto da Costa Leite
Funcionário e Pesquisador do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

Referências: