sexta-feira, 20 de setembro de 2013

PELO QUE VALE A PENA CELEBRAR




  No Rio Grande do Sul o 20 de setembro é feriado estadual, pois é celebrada a Revolução Farroupilha, uma revolta iniciada pela classe burguesa de estancieiros que eram contra os altos impostos que o Império havia colocado sobre o charque e o couro, produtos comercializados pelos mesmos. Com ideais de liberdade e respeito, o general Bento Gonçalves reúne um grupo de militares, também donos de grandes fazendas que produziam esta carne para comercializar pelo Brasil, dentre eles general Neto, coronel Onofre Pires, coronel Lucas de Oliveira, deputado Vicente da Fontoura, general Davi Canabarro, coronel Corte Real, coronel Teixeira Nunes, coronel Domingos de Almeida, coronel Domingos Crescêncio de Carvalho, general José Mariano de Mattos, general Gomes Jardim. Não esquecendo também de Bento Manuel Ribeiro, este que lutou em ambos os lados ao longo da guerra, mas quando acabou a “revolução” ele estava ao lado do imperador.  Muitos comemoram a grandiosidade desta batalha e a coragem que estes homens tiveram de enfrentar o Exército imperial, mas esta foi uma batalha perdida.
  Com poucos homens preparados para o combate armado, pois o contingente militar era pouco, incorporaram a suas tropas seus filhos, empregados e os negros escravos lhes prometendo uma tal de carta de alforria quando a “guerra” acabasse. Detalhe: o Brasil continuava sendo um país escravista. Também contaram com a inspiração ideológica de italianos da Carbonária refugiados, como o cientista e tenente Tito Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti, além do capitão Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse a carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália.

Os verdadeiros lutadores pela liberdade
  Mas se devemos realmente comemorar a Revolução Farroupilha que não seja pela memória destes elitistas tão reconhecidos como figuras heroicas, mas sim pelos verdadeiros heróis que lutaram por seus ideais de liberdade: os Lanceiros Negros.
  Lanceiros Negros é o nome dado a dois corpos de lanceiros constituídos, basicamente, de negros livres ou de libertos pela República Rio-Grandense que lutaram na Revolução Farroupilha. Possuíam 08 companhias de 51 homens cada, totalizando 426 lanceiros.
 Tornou-se célebre o 1.º Corpo de Lanceiros Negros, organizado e instruído, inicialmente, pelo Coronel Joaquim Pedro, antigo capitão do Exército Imperial, que participara da Guerra Peninsular e se destacara nas guerras platinas. Ajudou, nesta tarefa, o Major Joaquim Teixeira Nunes, veterano e com ação destacada na Guerra Cisplatina.
  Estes negros escravos eram recrutados pelos generais com a promessa de receberem sua liberdade e de sua família, tendo então como ideologia real a luta pelo respeito de seu povo e a tão sonhada liberdade em relação aos demais envolvidos nesta guerra.
  Infelizmente estes homens corajosos não são reconhecidos como deveriam pela história e quando mencionados são de pouca visibilidade, mas foram de muita importância para a história regional, cultural e até religiosa do nosso estado. Muitos fatos ainda são omitidos, dentre eles o fato dos negros utilizarem de sua religiosidade para invocarem Ogum, orixá africanista da batalha, para lhes protegerem e lhes darem força a luta com o grito “Ogunhê”, e em relação ao cruel e covarde Massacre de Porongos, onde traídos pelo general David Canabarro tiveram suas armas retiradas e foram chacinados enquanto Canabarro estava longe dali. A burguesia coloca esta batalha como surpresa, que Canabarro e os Lanceiros haviam sido surpreendidos pela tropa do Império, o qual não concordo com tal versão e os movimentos quilombolas com o resgate de documentos pessoais de antepassados seus ou através da História Oral de seus familiares confirmam o massacre.
  Com reais ideais revolucionários, com a verdadeira luta pela liberdade e respeito de seu povo estes homens tiveram importante participação em nossa história e esta revolução não deveria estar sendo celebrada no dia 20 de setembro, mas sim no mês de novembro no período deste cruel massacre.

Jéferson Cristian Guterres de Carvalho
Graduando de bacharel em História pela Universidade Luterana do Brasil, campus Canoas.
Canoas, 20 de setembro de 2013.

Fontes:
Bond, Rossana. O Massacre de Porongos Faz 164 Anos. Site A Nova Democracia, Apoio a Imprensa Popular e Democrática. Acessado no dia 20 de setembro de 2013, às 11:30 hs, pelo link http://www.anovademocracia.com.br/no-48/1916-o-massacre-de-porongos-faz-164-anos.

Ferreira Hemerson. A Guerra dos Farrapos e seus Lanceiros Negros. Diário Liberdade, acessado no dia 20 de setembro de 2013, às 11:40 hs, pelo link http://www.diarioliberdade.org/brasil/antifascismo-e-anti-racismo/30880-a-guerra-dos-farrapos-e-seus-lanceiros-negros-tra%C3%ADdos.html.


Martins, Jonas. A Batalha de Porongos. O Recanto das Letras, site acessado no dia 20 de setembro de 2013, às 11:47 hs, pelo link http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2908821.