No Rio Grande do Sul o 20 de
setembro é feriado estadual, pois é celebrada a Revolução Farroupilha, uma revolta
iniciada pela classe burguesa de estancieiros que eram contra os altos impostos
que o Império havia colocado sobre o charque e o couro, produtos comercializados
pelos mesmos. Com ideais de liberdade e respeito, o general Bento Gonçalves reúne
um grupo de militares, também donos de grandes fazendas que produziam esta
carne para comercializar pelo Brasil, dentre eles general Neto, coronel Onofre
Pires, coronel Lucas de Oliveira, deputado Vicente da Fontoura, general Davi
Canabarro, coronel Corte Real, coronel Teixeira Nunes, coronel Domingos
de Almeida, coronel Domingos Crescêncio de Carvalho, general José Mariano
de Mattos, general Gomes Jardim. Não esquecendo também de Bento Manuel
Ribeiro, este que lutou em ambos os lados ao longo da guerra, mas quando
acabou a “revolução” ele estava ao lado do imperador. Muitos comemoram a grandiosidade desta batalha
e a coragem que estes homens tiveram de enfrentar o Exército imperial, mas esta
foi uma batalha perdida.
Com poucos homens preparados para
o combate armado, pois o contingente militar era pouco, incorporaram a suas
tropas seus filhos, empregados e os negros escravos lhes prometendo uma tal de
carta de alforria quando a “guerra” acabasse. Detalhe: o Brasil continuava
sendo um país escravista. Também contaram com a inspiração ideológica de
italianos da Carbonária refugiados, como o cientista e tenente Tito
Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti, além do capitão Giuseppe
Garibaldi, que embora não pertencesse a carbonária, esteve envolvido em
movimentos republicanos na Itália.
Os verdadeiros lutadores pela liberdade
Mas se devemos realmente
comemorar a Revolução Farroupilha que não seja pela memória destes elitistas
tão reconhecidos como figuras heroicas, mas sim pelos verdadeiros heróis que
lutaram por seus ideais de liberdade: os Lanceiros Negros.
Lanceiros Negros é o
nome dado a dois corpos de lanceiros constituídos, basicamente, de negros
livres ou de libertos pela República Rio-Grandense que lutaram na Revolução
Farroupilha. Possuíam 08 companhias de 51 homens cada, totalizando 426
lanceiros.
Tornou-se célebre o 1.º Corpo de
Lanceiros Negros, organizado e instruído, inicialmente, pelo Coronel Joaquim
Pedro, antigo capitão do Exército Imperial, que participara da Guerra
Peninsular e se destacara nas guerras platinas. Ajudou, nesta tarefa, o
Major Joaquim Teixeira Nunes, veterano e com ação destacada na Guerra
Cisplatina.

Infelizmente estes homens
corajosos não são reconhecidos como deveriam pela história e quando mencionados
são de pouca visibilidade, mas foram de muita importância para a história
regional, cultural e até religiosa do nosso estado. Muitos fatos ainda são omitidos,
dentre eles o fato dos negros utilizarem de sua religiosidade para invocarem
Ogum, orixá africanista da batalha, para lhes protegerem e lhes darem força a
luta com o grito “Ogunhê”, e em relação ao cruel e covarde Massacre de
Porongos, onde traídos pelo general David Canabarro tiveram suas armas
retiradas e foram chacinados enquanto Canabarro estava longe dali. A burguesia
coloca esta batalha como surpresa, que Canabarro e os Lanceiros haviam sido
surpreendidos pela tropa do Império, o qual não concordo com tal versão e os
movimentos quilombolas com o resgate de documentos pessoais de antepassados
seus ou através da História Oral de seus familiares confirmam o massacre.
Com reais ideais revolucionários,
com a verdadeira luta pela liberdade e respeito de seu povo estes homens
tiveram importante participação em nossa história e esta revolução não deveria
estar sendo celebrada no dia 20 de setembro, mas sim no mês de novembro no período
deste cruel massacre.
Jéferson Cristian Guterres de
Carvalho
Graduando de bacharel em História
pela Universidade Luterana do Brasil, campus Canoas.
Canoas, 20 de setembro de 2013.
Fontes:
Bond, Rossana. O Massacre de
Porongos Faz 164 Anos. Site A Nova Democracia, Apoio a Imprensa Popular e
Democrática. Acessado no dia 20 de setembro de 2013, às 11:30 hs, pelo link http://www.anovademocracia.com.br/no-48/1916-o-massacre-de-porongos-faz-164-anos.
Ferreira Hemerson. A Guerra dos
Farrapos e seus Lanceiros Negros. Diário Liberdade, acessado no dia 20 de
setembro de 2013, às 11:40 hs, pelo link http://www.diarioliberdade.org/brasil/antifascismo-e-anti-racismo/30880-a-guerra-dos-farrapos-e-seus-lanceiros-negros-tra%C3%ADdos.html.
Martins, Jonas. A Batalha de
Porongos. O Recanto das Letras, site acessado no dia 20 de setembro de 2013, às
11:47 hs, pelo link http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2908821.